Brisa-Suave era uma menina curiosa e intuitiva, talvez um pouco mais reservada e introspectiva em relação às outras crianças da tribo, o chefe Caminha-Sobre-O-Lago já notara seu potencial mágico e sempre dizia que ela teria um grande papel para com sua família cheyennes. Brisa-Suave costumava ter pesadelos, e isso não era um agouro bom, espíritos malignos brincavam em seus sonhos e a menina já não suportava mais aquilo, sonhava sempre com animais horríveis correndo em seu encalço por uma planície desértica que se perdia no horizonte, não havia uma só árvore para se esconder, nem pedra, nem nada, só a planície, o céu e animais tão medonhos que faria até mesmo um grande caçador cheyenne correr de medo! Pela manhã ela acordava suada e gritando. Sua mãe não compreendia o que estava acontecendo e já não suportava mais ver Brisa-Suave tão agitada, não fazia parte de sua natureza e aquilo certamente não era normal, foi então que ela resolveu levar sua filha até o chefe Caminha-Sobre-O-Lago.
Caminha-Sobre-O-Lago decidiu que faria um artefato mágico para terminar de uma vez por todas com as brincadeiras desses espíritos malignos, mandou três dos melhores caçadores cheyennes buscar penas de águia e outros ingredientes com poderes de espíritos do ar e da água e fez uma rede redonda com penas penduradas, instruiu Brisa-Suave a pendurar o artefato em cima da cabana antes da menina dormir, pois aquela rede capturaria os sonhos maus e deixaria apenas os sonhos bons passarem. Naquela mesma noite Brisa-Suave pendurou o filtro dos sonhos e dormiu.
Ela sonhou que seu pai voltara de uma caçada com muita pele de búfalo e carne, sonhou também que podia voar como uma águia e nadar como um peixe, viu sua tribo toda lá de cima e quando acordou com os primeiros raios de sol, estava sorridente e feliz. Sua mãe, muito satisfeita, foi agradecer ao chefe Caminha-Sobre-O-Lago, "Brisa-Suave é uma boa menina" respondeu o chefe "Merece bons sonhos, sinto que um dia ela se tornará um membro importante de nosso povo!”
Semanas se passaram e Brisa-Suave crescia saudável e alegre, sempre sorrindo, mas ainda reclusa, gostava de brincar com as tranças as margens do lago e deitar para ler o que os espíritos das nuvens tinham a lhe dizer. Certa noite, o céu se acinzentou e Brisa-Suave foi falar com Caminha-Sobre-O-Lago, "Onde estão nossos guerreiros" perguntou ela, "Caçando a alguns dias de viagem, porque?" Respondeu Caminha-Sobre-O-Lago "O céu está escuro, temo que algo aconteça, temo que volte a ter pesadelos, pois este céu se parece com os céus de meus pesadelos", Caminha-Sobre-O-Lago tentou acalma-la, porém, não ignorou as palavras de Brisa-Suave, ordenou que os poucos homens que haviam ficado no acampamento, permanecessem alertas, pois havia um sabor ruim nos ventos trazidos do oeste.
Quando todos estavam deitados, e o filtro dos sonhos estava em seu lugar, ouviram-se gritos de alerta, depois, gritos de dor, cara-pálidas de casacos azuis atacaram o acampamento quebrando a palavra de guerreiro-honrado. Assassinaram homens, velhos, mulheres e crianças. Caminha-Sobre-O-Lago tentou dizer que não queriam guerra, que se necessário se mudariam dali, mas não adiantou, tomou cinco tiros e teve seus dedos cortados para servirem de troféus, Brisa-Suave ficou paralisada, mas um jovem conseguiu salva-la junto com um grupo de mulheres e outros dois guerreiros. Fugiram para longe, atravessando um deserto sem árvores ou pedras para se esconderem.
Brisa-Suave não tinha mais mãe, nem pai, o grupo não falou uma só palavra durante toda a viagem, apenas as lágrimas escorriam pelos rostos deles, mas principalmente pelo rosto da mais jovem cheyenne que era Brisa-Suave. Depois disso ela mudou seu nome para Lágrima-Que-Cai, outros grupos também fugiram, mas a maioria não sobreviveu, principalmente mulheres, crianças, velhos e mulheres grávidas, seus membros e órgão sexuais foram decepados como troféus pelos selvagens brancos.
Tudo que Lágrima-Que-Cai conseguiu levar consigo foram seus irmãos cheyennes, a roupa do corpo e o filtro dos sonhos, mas infelizmente nem mesmo o seu filtro dos sonhos foi capaz de faze-la ter uma só noite sem pesadelos depois desta fatalidade.
